embora seja noite
Publicado pela Cosmorama Edições em Dezembro de 2006.
O desenho da capa é do escultor José Rodrigues. Apresentado na Centésima Página, pelo José Rui Teixeira, a 1 de Março de 2007
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quinta estação
teu corpo é um arco sobre o tempo onde o fulgor do silêncio se demora por isso se o ofício é vão e imperfeita a idade a palavra que me habita é onde eu moro e essa habitação depura em mim a explicação de toda a liberdade nona estação que morada farei para aquele que se ausenta que lume acenderei quando nem cinzas como enunciarei o nome indisponível? não te recolhe já a jubilação da noite inaudível é o eco dos teus passos nem o rumor de mil águas te nomeia pois nenhum sortilégio te detém do teu rosto apenas sei que me reergue do teu nome tão só que o meu contém décima terceira estação quantas portas se abriram sem que esperássemos mais que a errância fissurada do olhar o amor breve incerto litoral de onde fossemos? quantas portas se abriram depois dessas sempre que a noite se cerrou à nossa volta? ao arrepio de quanto a idade teme e do que a prudência aconselha em voz corrida não é adequado preparar o corpo para túmulo por maior que seja a extensão da morte dela ainda será pedra removida pois teu corpo é meu corpo levantado e nem lava avareza ou imundície o reterá na orla do crepúsculo |